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Florbela... Linda Florbela...

"E se um dia hei de ser pó, cinza e nada/ Que seja a minha noite uma alvorada,/ Que me saiba perder... pra me encontrar..."

Leila, Leila! Me faça pecar!

Aprendi em criança a rejeitar os pecados e seguir tentando a santidade. De todas as tarefas que recebi até hoje, rumar para a santidade foi a mais árdua, chata, sem sentido, sem graça e insossa de todas. Decidi muito cedo assumir o halo que me serpenteia: nasci pecadora e pretendo assim morrer. Pecar me parece indispensável, já que minha escrita é a encarnação de meus pecados, e , ao mesmo tempo, minha confissão e absorvição.

É certo que há alguns pecados que tento evitar diariamente, sobretudo para manter alguma constância ou organização no pensamento: lanço fora (ou tento) a indolência. Ela fica ali, ao meu lado, diariamente enquanto penso - e penso como se estivesse escrevendo: isso faz de mim uma lunática tarada tomada pela vaidade (pecado que me fez sair da indolência do fim da tarde de sábado e escrever. Escrever desordenadamente sobre os pecados da escrita)

Minhas indignações sobre a vida vão se colocando em cada ponto e exclamação! Sigo pecando! Lá se vão representadas em personagens a maior das luxúrias, sem o menor pudor ou precaução; às vezes meus pecados não aparecem explícitos nos textos que escrevo, mas acontecem durante a escrita. Sim! Sinto muita inveja às vezes! Penso em Clarisse Lispector, em Martha Medeiros, em Elisa Lucinda, Ana Maria Machado... Que belas palavras têm todas estas mulheres! Como escrevem bem! Como são merecedoras de todo seu legado!

Este blog é um pecado: reflexo da minha preguiça. Esvaziado de mim e cheio de mim. Esvaziado pela inconstância de postagens e cheio na intensidade de meus sentimentos. Hoje é dia de preenchimento, de lotação e de transborde. Hoje este blog está lotado de um pecado muito bonito e esperançoso. Hoje este blog ( e esta blogueira) está muito vaidoso.

Pela primeira vez em muitos anos escrevendo percebi de verdade que minha escrita pode encontrar ideias, desejos, sonhos, carinhos e pecados de outros, que não aqueles meus amigos e irmãos de caminhada ( e que estes não me acusem de avarenta, por favor!) Hoje eu quero ser escritora quando crescer!

Quero escrever para Leila, que nem me conhece e que gosta de mim.
Quero dizer para Leila que ela me fez vaidosa; quero que ela saiba que esta vaidade me impulsiona e me acrescenta muitos elementos à escrita; quero dizer à ela que quando os originais do meu (nosso) livro estiverem prontos, enviarei a ela em primeira mão; quero que ela fique sabendo que haverá no livro uma dedicatória mais ou menos assim: "Para Leila, que me fez pecar e encarnar muitas destas palavras..."
Quero escrever para Leila e, escrevendo para ela, eu pretendo encontrar também as Marias, as Natálias, as Carolinas, Verônicas, Paulos, Flávios, Josés, Andreias, Lucianas, as Anas e as Claras - estas duas últimas, com uma certa urgência bastante peculiar...

5 comentários:

Anônimo disse...

Ao escrever o homem se aproxima dos seus! E ainda que estes não lhe sejam iguais em aparência, se reconhecem em sua humanidade! Que belo pecado é esse de escrever! Que sua produtividade fecunde seu coração e que este seu pecado de escrever se torne um vício, brindando a todos que porventura a lerem... Bjos
Fred

Clara Rohem disse...

Fred, amigo!
Obrigada pela delicadeza do comentário.
Enquanto escrevia este texto, olhava também teu fotoblog. Acho que suas fotos foram fundamentais à produtividade de ontem.
Beijos e obrigada por contribuir de tantas maneiras para meu pecado de escrever!

Leila Viana disse...

Clara me senti muito honrada em estar no seu texto, que alegria!!!Adoraria que este livro seja logo publicado para que eu receba a minha tão desejada cópia. Amo realmente os seus textos, são divinos e precisam rodar este mundo de todas as maneiras possíveis. Acredito que a sua vaidade deve sim, e não só por mim, ser alimentada porque é justo e merecido. Obrigada por nos disponibilizar algo tão precioso. Faço, entre as minhas amigas, a propaganda, vamos te espalhar pelo mundo!!!!rsrsrsrs

Veronica Mascarenha disse...

Gente, de onde saiu essa Leila que pensa exatamente como eu quando o assunto é Clara??!!
Clara minha amiga, parabéns por mais um texto tão belo, que eles continuem sendo uma fonte de inspiração e alegria!
Parabéns para você também Leila, pois somente
um olhar cheio de leveza e doçura é capaz de admirar a mais fina linha da literatura. beijos carinhosos para a escritora e para leila, que nesse dia, foi a fonte de tão prazeroso pecado.

Clara Rohem disse...

E ao que parece, agora devo também um outro pecado para Verônica, rsrs.
Obrigada a vocês por passarem por aqui e compartilharem comigo o que (acredito) pode haver de mais simbólico entre o sagrado e o profano: a palavra.

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