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Florbela... Linda Florbela...

"E se um dia hei de ser pó, cinza e nada/ Que seja a minha noite uma alvorada,/ Que me saiba perder... pra me encontrar..."

Às Moscas

Criei um blog e deixei-o às moscas!

Coisa mais sem graça!

Pessoa mais maluca!

Já não me recordava nem o endereço de e-mail que usei para criar este espaço. Agora me pergunto: Por que o fiz, se já sabia de minha impaciência para gerenciá-lo?

Sei lá!
Fiz porque fiz, ué!
(a gente faz tanta coisa sem saber por que...)

No fundo, no fundo - beeem no fundo mesmo- eu sei o motivo da criação deste espaço, mas sei também que tenho muitas dificuldades em assumir algumas coisas que sei (principalmente sobre mim). Assumir o que sei sobre mim é um pouco como projetar para outros espaços coisas que antes sonhavam ser ignoradas.

Projetar é com cinema. Cinema é com telão. Telão é com o filme e o filme é com os expectadores.
Eu expectadora de mim?

Sentar com um balde de pipocas no colo e olhar atentamente a projeção de mim na tela: o exercício da assunção!

Acho que me posicionei mal no cinema, porque embora esteja sozinha, não enxergo com clareza o filme exibido. As imagens estão fora de foco, mas eu sei que o filme não é antigo. Coisa esquisita!
Vejo umas distorções aqui, uns borrões acolá. O áudio tem um chiado incômodo no fundo e cadê a legenda dessa bosta?

Ah, sim... não precisa de legenda.

O filme não tem diálogo.

Não tem co-adjuvante.

Isso aqui não é teatro!

Isso aqui não é monólogo!

Isso é cinema mudo.

Não me acostumo com o silêncio, menos ainda com a ausência das palavras. Das minhas palavras. Pra onde elas foram? O que fiz com elas?

Passei esses meses rabiscando umas linhas.

Hoje abri uma gaveta e achei tanta coisa rabiscada que até me assustei!

Guardei todas elas numa gaveta!

Dezenas de guardanapos, folhas de caderno rasgadas pela metade e desenhadas no verso, com frases que não fazem o menor sentido!

Num desses guardanapos está escrito: "duas moscas se afogam num copo de cerveja, e minha amiga continua chorando"

Que troço escroto!

Só pode ser filosofia de boteco!

Não faço ideia de quando isso aconteceu e tão pouco lembro quem era a amiga que chorava, mas certamente as moscas éramos nós, afogadas em nossas dificuldades de aceitar e assumir nosso universo. Pode ser que sim. Pode ser que não. Não sei.

Se não houve duas moscas se afogando num copo de cerveja de verdade, se usei uma figura de linguagem para descrever uma cena, intriga-me a representação das moscas.

Mosca vive girando em torno de merda, em torno de lixo. Mosca morre rápido! Sapo come mosca! Todos querem se livrar delas!

Geeeeeeente...

Em que momento me enxerguei como mosca? Pior: quando foi que enxerguei alguém querido como uma também?

Eis aí umas coisas que talvez eu saiba, mas de tanto não querer saber, esqueci!

A gente esquece do que não quer saber, mas tem coisas que são necessárias serem lembradas. É necessário assumir (se).

Já que hoje lembrei deste blog (não sei se há necessidade nisso), já que hoje achei essa tal gaveta de bobagens, e já que hoje assumi que um dia eu fui "mosca", coloco-me o desafio de continuar assumindo as coisas que sei. Coisas bobas ou complexas, bonitas ou feias: não importa!

Espanto as moscas deste blog e faço dele meu lugar de assunção durante um mês.

Pra começar, assumo que este espaço só foi criado num dia em que eu me sentia como merda, e ouvia os zumbidos das moscas me rodiando. Todo mundo tem "um dia de merda". Tudo bem: merda é adubo!

Adubo fortifica, faz árvore crescer. Quando não há mais cheiro de merda, quando tudo é copa de árvore, as moscas voam e vão zunir em outra freguesia.

Xô, moscas!