Era uma menina cheia de coisas inúteis.
As inutilidades tomavam-lhe o corpo:
Vivia com a cabeça nas nuvens,
De muito pensar em balões,
Princesas,
Gnomo e paçoca.
Tinha os dedos indicadores roxos
(de tanto futucar a terra pra achar minhoca)
Tinha as palmas das mãos fundas
- de tanto aparar vento,
de tanto passar-anel.
Tinha as pernas compridas
(de tanto pular sobre as Pirâmides do Egito,
de tanto apostar corrida,
de muito pular elástico
de tanto envolver o mundo.
Tinhas uns pés gigantes:
de tanto correr descalça
nos cumes dos montes
Atrás doutros Pés Grandes.
Suas orelhas incharam
de tanto ouvir passarinho cantar,
de muito escutar a vitrola do vizinho,
de muito ouvir o mar
e de tanto puxão de orelha
que levava por suas inutilidades sem fim.
Seu pescoço esticou como o da girafa
de tanto olhar para ontem,
de tanto procurar estrelas cadentes,
e de tanto olhar por baixo das pernas
só para enxergar tudo diferente.
Seus olhos esbugalharam
de tanto procurar formiga em chão preto,
de tanto olhar para as nuvens em dia de chuva,
de tanto procurar a lua em dias de sol;
De tanto levar susto
com bronca de adulto
( para “tomar modos de gente”)
um dia a menina soltou
um grande arroto e
Saiu por aí arrotando as idéias
que tinha na cabeça e
as coisas que seus dedos tinham tocado:
Aí a menina aprendeu a falar.
De tanto ouvir sermão para parar de arrotar
e de tanto arrotar pelas broncas que levava,
a menina começou a prestar atenção em seus arrotos.
Percebeu as letras.
Juntou palavras:
E a menina aprendeu a ler.
E de tanto levar sacolejo de adulto
pra “ter mais educação” e
parar de arrotar por aí,
um dia a menina sentou.
Encolheu as pernas compridas,
mexeu as pontas dos pés e plantou-os no chão.
Com a palma da mão
(funda de tanto aparar vento),
afofou a terra.
Inclinou o grande pescoço para baixo,
sentiu seu estômago embrulhar,
abriu a boca e mais uma vez, arrotou.
Abriu ainda mais os olhos.
Observou as letras e
com a ponta do dedo indicador
rabiscou na terra:
DESENGONÇADA.
A menina aprendeu a escrever.
E de tanto encolher as pernas,
de tanto ajeitar areia,
de tanto sentir seu estômago embrulhar,
de tanto arrotar inutilidades,
de tanto observar o que arrotava,
de tanto rabiscar seus arrotos,
a menina virou POETA.
As inutilidades tomavam-lhe o corpo:
Vivia com a cabeça nas nuvens,
De muito pensar em balões,
Princesas,
Gnomo e paçoca.
Tinha os dedos indicadores roxos
(de tanto futucar a terra pra achar minhoca)
Tinha as palmas das mãos fundas
- de tanto aparar vento,
de tanto passar-anel.
Tinha as pernas compridas
(de tanto pular sobre as Pirâmides do Egito,
de tanto apostar corrida,
de muito pular elástico
de tanto envolver o mundo.
Tinhas uns pés gigantes:
de tanto correr descalça
nos cumes dos montes
Atrás doutros Pés Grandes.
Suas orelhas incharam
de tanto ouvir passarinho cantar,
de muito escutar a vitrola do vizinho,
de muito ouvir o mar
e de tanto puxão de orelha
que levava por suas inutilidades sem fim.
Seu pescoço esticou como o da girafa
de tanto olhar para ontem,
de tanto procurar estrelas cadentes,
e de tanto olhar por baixo das pernas
só para enxergar tudo diferente.
Seus olhos esbugalharam
de tanto procurar formiga em chão preto,
de tanto olhar para as nuvens em dia de chuva,
de tanto procurar a lua em dias de sol;
De tanto levar susto
com bronca de adulto
( para “tomar modos de gente”)
um dia a menina soltou
um grande arroto e
Saiu por aí arrotando as idéias
que tinha na cabeça e
as coisas que seus dedos tinham tocado:
Aí a menina aprendeu a falar.
De tanto ouvir sermão para parar de arrotar
e de tanto arrotar pelas broncas que levava,
a menina começou a prestar atenção em seus arrotos.
Percebeu as letras.
Juntou palavras:
E a menina aprendeu a ler.
E de tanto levar sacolejo de adulto
pra “ter mais educação” e
parar de arrotar por aí,
um dia a menina sentou.
Encolheu as pernas compridas,
mexeu as pontas dos pés e plantou-os no chão.
Com a palma da mão
(funda de tanto aparar vento),
afofou a terra.
Inclinou o grande pescoço para baixo,
sentiu seu estômago embrulhar,
abriu a boca e mais uma vez, arrotou.
Abriu ainda mais os olhos.
Observou as letras e
com a ponta do dedo indicador
rabiscou na terra:
DESENGONÇADA.
A menina aprendeu a escrever.
E de tanto encolher as pernas,
de tanto ajeitar areia,
de tanto sentir seu estômago embrulhar,
de tanto arrotar inutilidades,
de tanto observar o que arrotava,
de tanto rabiscar seus arrotos,
a menina virou POETA.