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Florbela... Linda Florbela...

"E se um dia hei de ser pó, cinza e nada/ Que seja a minha noite uma alvorada,/ Que me saiba perder... pra me encontrar..."

Anônimo

Muito bem. O Adeus chegou silencioso. Ficou ali, a minha frente, debruçado sobre minhas mãos como uma mulata de janela com seus olhos fixos nos caminhantes rua acima, ladeira abaixo, sobrado adentro.

Muito bem. O Adeus não me fez nenhum gesto, não se identificou, mas esteve ali. Talvez tenha chegado mais cedo do que pude perceber. Talvez tenha ficado algum tempo misturado aos balões de gás da festa bonita que a paixão fez. Talvez. Talvez. Não sei.

Muito bem. O Adeus me fez sentir mais madura hoje. Não lhe neguei um aperto de mãos, não lhe desviei o olhar e também não lhe menti minhas lágrimas. Estivemos ombro a ombro olhando o céu, sem palavras sobre o passado e sem recomendações frívolas ao futuro: devemos isto à nossa história.
Muito bem. O Adeus me arrancou o casaco, me levou os saltos e borrou meu batom. Eu deixei que o fizesse sem maiores resistências enquanto afagava meus cabelos úmidos pela luz da lua, desalinhados pelos beijos do vento.

Muito, muito bem! O Adeus cirandou comigo e me sorriu: nem anel de vidro que se quebre, nem amor pouco que se acabe. Rodamos, giramos, bailamos sem cantigas, nos atiramos no chão, nos entreolhamos...
Muito, muitíssimo bem! O Adeus percorreu sua mão em meu rosto, beijou minha testa e me fez sentir seu hálito quente. Durou só um instante, depois, atravessou-me a alma, tomou-me o fôlego e levou sua presença pra outro lugar.

Muito, muitíssimo bem! Enfim o Adeus me cerra os olhos e dele? Já não sei mais. Enfim esse Adeus – depois de todo caos, me esvazia, me oca, me cala só pra fazer lembrar que amor é contrato com cláusulas de letras miúdas na parte inferior da folha: em caso de desistência, ele chama o Adeus e com ele se vai.

Bem. Muito bem. Muitíssimo bem! Óh, Deus! É Adeus!

Bem. Muito bem.

Mas nem tão bem assim...