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Florbela... Linda Florbela...

"E se um dia hei de ser pó, cinza e nada/ Que seja a minha noite uma alvorada,/ Que me saiba perder... pra me encontrar..."

A valsa de Eros e Psiquê.



Adormecida sob o vento de agosto, aconchegava-se entre edredons e travesseiros. Em seu quarto ouvia-se apenas o zunido do vento frio passando por entre as frestas das velhas janelas de madeira, corroídas pelo tempo e pela maresia.
Ao longe, a música débil das ondas quebrando na areia da praia e o tilintar do “capta sonhos” na varanda. Dentro do quarto, a quietude do corpo banhado pelo óleo de Pimenta Rosa, absorto e relaxado, envolto pelas rendas e sedas da lingerie branca, há um tempo esquecida.
Passos suaves anunciam a aproximação do calor de outro corpo, que traz movimentos singelos sobre a cama e mãos que retiram o edredom, e que encontram pernas, barriga e seios...
Por enquanto, não há palavras. Também não há mais lençóis: há apenas bocas e línguas, criadoras de uma atmosfera “caliente” para corpos vivos e suados.
A respiração forte (quase ofegante) busca o controle temporário de si sobre o prazer.
...

A mão emaranhada em seus cabelos.
A boca umedecendo todo o pescoço.
A visão de suas costas nuas.
O cheiro da Pimenta Rosa.
As unhas “cravadas” em suas costas molhadas.
O êxtase de senti-la deslizar sua língua por seus mamilos rijos pelo prazer...
Descontrole.
Arrepios.
...

Eles não sabem ainda, mas dançam.
Dançam uma valsa improvisada, sem amarras e marcações.
Os movimentos dos corpos apenas seguem o ritmo da música das ondas.
Agora, a quebra do silêncio.
O ir e vir das ondas...
Sussurros;
Ruídos;
Promessas que jamais serão cumpridas.
O tilintar do capta sonhos na varanda;
A espuma branca na areia.
Gemidos;
Corpos realizados, soltos sobre a cama.
...
  O quarto completamente escurecido pela chegada da grande noite permitia apenas o reconhecimento tátil do corpo daquele que a tivera em seus braços de maneira tão ardente naqueles instantes de amor.
          Ele adormeceu aconchegado em seus seios ainda quentes de paixão, e ela movimentou cuidadosamente sua cabeça para o travesseiro, e se levantou. Buscava a luz, pois desejava vê-lo.
            Ainda nua, caminhou até a janela intencionando abri-la para que a claridade da lua cheia iluminasse o rosto daquele que a fizera tão bem. Já não havia mais vento, nem sons vindos da praia, nem ruídos no quarto: apenas o quase silêncio de sua própria respiração.
            Embevecida pelos fortes ventos do mês de agosto, aconchegada entre lençóis, edredons e delírios, abriu sonolentamente os olhos. Pela janela entreaberta, avistou o capta sonhos na varanda. Ouviu o ruído do vento e o som do arrebentar das ondas nos rochedos da praia. Sentiu o vento frio em seus cabelos e adormeceu uma vez mais...

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