RSS

Florbela... Linda Florbela...

"E se um dia hei de ser pó, cinza e nada/ Que seja a minha noite uma alvorada,/ Que me saiba perder... pra me encontrar..."

Perdeu algo, bailarina?


O que procuras, bailarina?

Sapatilhas novas?

Novo chão?

Queres um palco novo?

Um novo giro?

Uma nova canção?


A bailarina teve mansidão

e ergueu-se nas pontas dos pés.

Levantou o pescoço,

esticou os braços.

Dobrou os cotovelos:

deixou-se contando em dez.


O que te incomoda, bailarina?

O peso do corpo?

A calosidade nos pés?

O vazio da primeira fila?

As luzes agora apagadas,

ou saber qual é sua sina?


A bailarina então teve pesares,

mas teve dedos de agüentar:

sustentou mais uma vez o pescoço,

erguendo cabeça, alma e olhar.

Mirando do fundo o moço,

Pôs-se outra vez a girar.


Por que não danças, bailarina?

Por que teu brilho tão ausente?

Não te dou corda?

Abrigo?

Companhia?

Presente?


A bailarina teve dores de amar.

Teve ternuras e uma lágrima se fez

e como se espiasse a vida do alto do céu,

como se soubesse de onde saltar,

fechou a cortina, refez seu papel:

mais um grand plié para terminar.


Diz-me, linda bailarina:

Por que não danças para mim?

Acaso não te mimo?

Não te cuido?

Não te dou jóias

e caixinha de marfim?


A bailarina teve tempo: temps Levé!

A vida inteira em sua cabeça.

O mundo todo na ponta dos pés.

Não mais olhou o moço;

não mais ergueu a cabeça:

Nem mais um giro sequer de revés!


Qual a sensação, bailarina,

de ficar tão quieta,

aconchegada na palma da mão?

Não ouves bailarina, a melodia?

Do som da caixinha de marfim,

Se partindo no chão?


A bailarina teve suspiros e

tentou agarrar nos dedos do moço,

seus laços macios de fita cetim.

Num grand pas de chat,

encontrou os estilhaços

da caixinha de marfim.


Bela bailarina!

Pra onde vais agora?

Aonde posso te encontrar?

Te dou outra caixinha, bailarina.

Te dou sopro e vida...

não me faças mais chorar!


A bailarina teve nada!

Nem uma porcelana de reação!

Ficou ali, estilhaçada:


Era caco, era vento, era volta.

Era dança, era luz e canção.

Era moço, moleque, menino!

Era uma vez uma bailarina.

Era outra vez sua paixão!

1 comentários:

Live disse...

Ah...esse é o mais bonitão d tds. =)

Postar um comentário